As plantas oferecem possibilidades fantásticas para ampliação da qualidade de vida, seja através de sua beleza, da terapêutica envolvida no cultivo, de seu uso na alimentação e até como medicamento, na fitoterapia. Só que, ao escolher as espécies que serão cultivadas no jardim, as pessoas muitas vezes focam apenas nos aspectos estéticos e se esquecem de aproveitá-las em sua plenitude. Por que não criar um jardim medicinal e gastronômico que seja ao mesmo tempo belo, inteligente e útil? É mais fácil do que você imagina e o melhor é que você pode fazer isso usando plantas amplamente cultivadas. Talvez você até já tenha alguma delas em casa.
A lavanda (Lavandula sp.) é um exemplo clássico de planta multifuncional. Famosa por suas propriedades calmantes, as flores da espécie são empregadas para amenizar a ansiedade, o cansaço e induzir ao relaxamento através da inalação. Externamente, a planta é usada para tratar problemas circulatórios na forma de escalda-pés, por exemplo. Já na culinária, as flores da lavanda servem para aromatizar compotas, bolos, biscoitos, e sucos; decorar bolos e saladas; e entra como ingrediente até em pratos salgados como molhos, pães e marinados.
O manjericão (Ocimum basilicum) é outra espécie comum nos jardins já consagrada na culinária. O que pouca gente sabe é que, além das folhas, suas flores também podem ser aproveitadas na criação de pratos quentes e frios, como massas, patês, saladas, pestos e molhos em geral. Outro aspecto da espécie pouco conhecido dos jardinistas são suas propriedades medicinais: o manjericão tem excelente ação digestiva, combatendo gases e cólicas intestinais, e auxilia no tratamento de problemas respiratórios como tosses, resfriados e bronquites. Ajuda até a controlar a febre.
A vistosa capuchinha (Tropaeolum majus) surpreende pela versatilidade. Todas as partes da planta que crescem acima do solo são aproveitadas em saladas, massas verdes, panquecas e diversas outras preparações. As flores coloridas ficam lindas na decoração comestível, e os botões florais e frutos podem ser preparados na forma de picles. Nem mesmo as sementes ficam fora das receitas: quando maduras, podem ser usadas como condimento. No ramo medicinal, a capuchinha tem propriedades antimicrobianas e diuréticas, sendo útil no tratamento de problemas respiratórios e urinários.
No pronto-socorro do jardim não podem faltar a arnica-da-horta (Solidago chilensis) e a babosa (Aloe vera). As folhas da primeira são um excelente anti-inflamatório de uso tópico para contusões e entorses. Já o uso externo do gel das folhas da babosa auxilia na cicatrização de feridas e no tratamento de queimaduras de primeiro e segundo graus, inclusive as causadas pelo sol.
A cavalinha (Equisetum sp.), que é muito usada em laguinhos, tem propriedade diurética, e, com exceção das raízes, todas suas partes podem ser usadas para aliviar o inchaço das pernas devido à retenção de líquidos. A espécie tem também ação antioxidante e antimicrobiana, podendo ser aplicada na forma de chá para a limpeza da pele.
É importante ressaltar, no entanto, que as plantas medicinais, assim como qualquer remédio, podem ter efeitos colaterais. O chá de cavalinha, por exemplo, pode causar efeitos indesejáveis se usado por períodos muito longos ou em doses altas. Por isso, vale a pena consultar um profissional habilitado antes de adotar qualquer uma das receitas, principalmente no caso de uso interno.
Hipócrates, uma das mais importantes figuras da história da medicina, já dizia: “que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”. Eu me permito acrescentar: se ambos puderem ser cultivados em seu jardim, ainda mais plenos serão seus benefícios!
(artigo original escrito para a Revista Natureza – Editora Europa, número 377, p. 86, junho de 2019)