Jardins verticais são uma tendência, principalmente em pequenos espaços, onde a área para as plantas se esparramarem pelo chão acaba sendo restrita. Uma das formas mais fáceis de se ter um é cultivando espécies trepadeiras. A maioria das casas possui ao menos uma parede, muro ou cerca onde essas plantas podem ser apoiadas, e suportes simples e baratos, como arames esticados horizontalmente, já viabilizam o cultivo.
Facilidade de plantio e manejo, beleza, utilidade: são vários os critérios que você pode usar na hora de escolher as trepadeiras que vão compor seu jardim. Mas, se além de tudo isso você quiser espécies que ajudem no bem-estar, recomendo três plantas em especial: os guacos (Mikania glomerata ou Mikania laevigata), os maracujazeiros (Passiflora edulis e Passiflora alata) e o chuchuzeiro (Sechium edule). Todos eles são muito vigorosos e, enquanto os guacos e maracujazeiros são nativos, o chuchu veio da América Central, mas foi naturalizado há séculos.
De folhas verde-escuras, os guacos são trepadeiras perenes de grande porte. Eles se desenvolvem tanto sob sol pleno quanto à meia-sombra – o que permite a eles se adaptarem a uma boa variedade de situações –, mas, para o cultivo vertical, requerem tutoramento. Como crescem se enrolando no suporte, podem ser facilmente conduzidos, e quem cultiva a planta pode tirar proveito de suas folhas no tratamento de gripes, resfriados, bronquite e tosse, já que elas têm propriedades expectorante e broncodilatadora.
Com dezenas de espécies ornamentais com flores vistosas e perfumadas, o gênero Passiflora, do qual fazem parte o maracujá-azedo (Passiflora edulis) e o maracujá-doce (Passiflora alata), têm ganhado cada vez mais espaço nos jardins. Essas trepadeiras são incríveis para revestir cercas, grades e caramanchões e lançam mão de gavinhas para se fixar nas estruturas, forrando barreiras visuais. De quebra, ainda produzem frutos funcionais muito apreciados para consumo in natura, em sucos, drinques, sobremesas e molhos. Até a parte interna das cascas – aquela branca e seca – tem sido aproveitada em receitas doces ou salgadas devido a seu alto teor de pectina, que colabora para o bom funcionamento intestinal. Na fitoterapia, as folhas dessas duas espécies são validadas cientificamente para combater ansiedade e insônia.
Assim como o maracujazeiro, o chuchuzeiro usa gavinhas para se fixar às estruturas. Sua folhagem é muito ornamental, mas cai no inverno. Ele era muito cultivado pelos astecas, foi levado pelos franceses para o norte da África, de onde passou a ser exportado para a Europa e empregado na produção de doces e geleias. No Brasil, é mais usado em pratos quentes e saladas.
Embora muita gente ache que chuchu tem apenas água, ele na verdade é um alimento muito nutritivo: de fácil digestão, é rico em pectina e fibras, além de pouco calórico. Seus brotos, com as folhas jovens e gavinhas, podem ser consumidos cozidos, picadinhos, na forma de cambuquira ou batidos em sopas. As raízes tuberosas longas e espessas, parecidas com as da batata-doce, são ricas em amido e podem ser usadas fritas, em pães, bolos e purês. Além disso, os frutos e folhas são usados há séculos por suas propriedades diurética e redutora da pressão arterial.
As trepadeiras apresentadas aqui são apenas algumas possibilidades para quem procura espécies que sejam ao mesmo tempo medicinais, alimentícias e ornamentais, e vale combiná-las com outras plantas para ter um jardim belo e produtivo.
(artigo original escrito para a Revista Natureza – Editora Europa, número 383, p. 82, dezembro de 2019)